Hoje, quero falar de um tema que tem a ver diretamente comigo, porque me emociona e dá sentido à minha existência. Isso mesmo. Reconheço que nossa vida tem sentidos diversos e nobres. Um dos meus está alicerçada na mulher negra que sou.
Antes de ser professora, advogada e afrocoaching, sou uma mulher negra extremamente orgulhosa de minhas origens e do povo negro que posso, honrosamente, chamar de meu. Ser mulher negra na sociedade em que vivemos não é tarefa fácil. Exige mais esforço do que deveria, superação constante e uma dose gigantesca de ousadia e determinação.
Digo isto porque, no próximo domingo, 25 de julho, é o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. A data faz referência ao 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas realizado em Santo Domingo, na República Dominicana, em 1992. Mas, só em 2014, com a Lei nº 12.987/2014 sancionada pela presidenta Dilma Rousseff, institucionalizou-se o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. A saber, Tereza de Benguela foi uma líder quilombola que viveu durante o século 18. Com a morte do companheiro, Tereza se tornou a rainha do quilombo e, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas, sobrevivendo até 1770, quando foi destruído.
Essa é uma data para que possamos olhar com mais atenção para essa parcela da população que agrega os piores índices de desenvolvimento humano. São as mulheres negras que, literalmente, estão na base da pirâmide social. Recebendo os piores salários e com menores oportunidades em todas as áreas, são mais pobres, com extrema dificuldade para ascender socialmente, sendo as que mais sofrem com a violência e a discriminação.
É por isso que minha atenção é para estas mulheres. Quero ajudá-las a deixar de sobreviver e passar a viver dignamente é um propósito que exercito todos os dias de diversas formas. Acredito que cada um de nós, brancos e negros, possamos ter consciência para o engajamento dessa luta. Podemos pensar o ativismo com frentes diversas de atuação. Eu, especialmente, escolhi trabalhar com empoderamento, desenvolvimento e aprimoramento através do afrocoaching.
No mestrado, tive meu primeiro contato com o universo do desenvolvimento humano, mas foi nas formações em Life Coaching e Coaching de Carreira, que percebi que era possível utilizar aquelas ferramentas e técnicas para empoderamento da população negra. Contudo, levei um tempo até, efetivamente, criar uma metodologia que contemplasse as demandas e os valores civilizatórios africanos dentro do processo de desenvolvimento.
É aqui que nasce o afrocoaching como método de desenvolvimento pessoal e profissional específico para mulheres negras, que, a partir de valores afrocêntricos, empodera e potencializa para uma vida plena e feliz. Como metodologia, é um processo que conduz a superação dificuldades, barreiras e limitações construídas por uma estrutura social racista, discriminatória e excludente. O processo potencializa as qualidades, habilidades e competências das mulheres negras para que possam ser protagonistas de histórias exitosas de vida.
O afrocoaching é, por isso, uma forma de luta focada no cuidado íntimo da mulher negra como resistência, redução da desigualdade e transformação da estrutura social existente.
Texto: Deborá Evangelista
Advogada